O Boteco: Coachella Dia 2

27/04/2010 12:09

Segunda - 26/04/2010
Coachella #DIA 2- Lavando a Alma



Dessa vez, já com ingressos a postos e com um vestuário muito mais apropriado pro calor, quis chegar mais cedo. No dia anterior estava com roupa pau-pra-toda-obra-de-shows-de-rock: calça jeans, camiseta e bota. Quase virei poça de suor. Povo lá de biquini e eu morrendo. Hoje não, amigo, tô ficando boa nisso. Além do shortinho, também providenciei minha autonomia etílica: uma garrafa de água na mochila cheinha de Absolut. Fiquei bem invisível na hora de passar na entrada e escapuli da revista. Ufa.
 
Cheguei bem na hora do Gossip, e fui lá conferir dona Beth Ditto ao vivo. Canta muito e parecia bem empolgada no palco. Calor monstro debaixo daquela lona, a franja grudando na testa e eu me acabando de dançar. De lá pulei pro XX, e depois uma paradinha estratégica numa sombra pra guardar as energias. Passei no Dirty Projectors e depois voei pro palco principal. Ainda estava acabando o Coheed and Cambria (bem interessante por sinal), mas eu fui logo pra lá mesmo assim. Queria ficar na frente no show do Faith No More. Mr. Patton adentrou o palco com seu indefectível terninho vermelho e bengala, cantando Reunited. “We both are so excited/ Cause we are reunited”. Era verdade. Na sequência, From Out of Nowhere, e aí me acabei e morri de pular até o final do show. Um momento surpreendente foi quando começaram os primeiros acordes de Ben, música de Michael Jackson na época do Jackson 5, quando ele cantava com aquela voz ainda agudinha de moleque. E qual não foi meu susto quando Mike abriu a boca nos primeiros versos e mandou um falsete muito digno da versão original.

Acabou o show e resolvi sair do crowd pra tomar um vento, quando de repente fui atropelada por centenas de pessoas vindo em direção contrária, indo pra frente do palco. Eram pessoas que queriam ver o Muse, mas ainda teria uma hora de intervalo. Ficariam de pé ali toda aquela hora de espera, e foi assim que percebi o quão grande o Muse se tornou nos EUA. Aproveitei esse tempo indo reabastecer minha garrafinha e passando pelo MGMT, que vi de longe. Eles parecem estar meio na moda nos States e é engraçado como o público deles é de gurizada bem novinha, coloridos e moderninhos. De tanque cheio, voltei pro main stage. Hora do Muse, com show do disco novo que eu ainda não tinha visto. Foi brutal. Uma sucessão de hits e refrões e melodias e solos matadores. Me acabei ainda mais e fiquei completamente rouca de tanto cantar a plenos pulmões. Coitado do cara da frente, devo ter gritado horrores na orelha dele. As músicas do disco novo ainda não pegaram muito, ao vivo a sensação é de que elas têm menos punch que as outras, mas muita gente conhecia. Destaque especialíssimo pro visual do show: as luzes e os efeitos são impressionantes e grandiosos; o telão editado à perfeição e com grandes sacadas; um deleite também para os olhos. E como soam bem ao vivo, puta que o pariu. Qualidade de som absurda, tudo no lugar. Grande banda, grande show.

Saí descabelada, rouca e feliz, e bravamente me encaminhei para o Dead Weather- outro show que estava no meu top five do Coachella. Tava bem cheio, e depois de andar o dia inteiro no sol, do FNM e do Muse eu estava só o pó da rabiola. Sem forças para enfrentar a turba. E meio grogue também. Fiquei um pouco mais afastada, de um lugar em que dava pra ouvir e ver tranquilamente (deus salve o telão nessas horas), e que ainda podia dar umas sentadinhas na grama entre uma música e outra. Tocava Hang You From The Heavens- opa!- uma levantadinha e uma dançadinha. Sentava. Tocava I Cut Like a Buffalo- ooopa!- uma levantadinha e uma dançadona. E assim foi até o final. Adorei eles ao vivo e fiquei definitivamente apaixonada pela Alisson Mosshart. Nunca vi alguém conseguir ser tão sexy e misteriosa de calça jeans, tênis e casaco. E com uma bela voz rouca e forte.

O fim desse segundo dia se aproximava e eu já estava mais do que satisfeita por ter conseguido ver os meus prediletos, quando fui tomada de assalto pelo 2ManyDJs. Como sempre, fomos encerrar o expediente na Sahara, e eu fui meio assim, sabe como é. Não sou muito de música eletrônica e tal, mas vamos lá. A vibe estava irresistivelmente boa. Entrei na pista um tanto cética, e meu corpo ganhou vida própria. Mandaram um remix de Love Will Tear Us Apart ( Joy Division), e aí eu surtei. Pista de eletrônico tem uma onda diferente. Talvez por não ter necessariamente uma banda no palco, as pessoas não ficam só viradas pra frente, e isso faz com que todo mundo dance com todo mundo. E minha cabeça fez uma analogia maluca com aquela parte clássica da música em que o beat para, um elemento faz uma melodia ascendente, subindo de tom a cada repetição, indo mais alto até chegar ao limite ao mesmo tempo em que aumenta a velocidade e parece que você vai enlouquecer, até que finalmente explode com a volta da batida. E as pessoas explodem junto. Se isso não é a descrição de um orgasmo, eu não sei o que seria. Me deixei levar, e no final do set dos caras veio uma chuva de papel picado. Tipo aquela que já vi mil vezes. Incrível como algo tão simples e bobo pode se tornar especial quando se está predisposto.
 


Crie um site grátis Webnode